
21/08/2025
Um pouco antes de autorizar a entrada dos turistas no barco especial de fundo transparente em formato de bolha, a bióloga marinha avisa: hoje nós vamos "baleiar". É assim que quem navega pelo mar chama o ato de espiar as baleias. A manhã de inverno está nublada, ventos fortes são aguardados para o próximo dia e os organizadores do passeio tentam não criar muitas expectativas.
Poucos minutos depois de deixar o porto municipal de Ubatuba, litoral norte paulista, lá estão elas. São duas baleias-jubarte juvenis de no máximo quatro anos, alternando borrifos e mergulhos, deixando a cauda à mostra. No barco, os passageiros respondem com suspiros de emoção.
"Elas chegaram aqui há poucos dias e esta é a nossa terceira saída para observá-las", explica Luciana Brondízio, a bióloga marinha que acompanha o grupo, coordenadora de projetos do Instituto Argonauta.
A mudança no roteiro focado em educação ambiental marinha oferecido pelo instituto é tão recente quanto a aparição desses mamíferos naquela região. Eles passam por ali a caminho das águas amenas no sul da Bahia, onde se reproduzem, fugindo do mar congelado no inverno da Antártida.
"A gente está começando a ver animais permanecendo no litoral paulista por dois, três meses. Alguns juvenis estão ficando mais nesta região, possivelmente nem migrando para o Nordeste", afirma Sérgio Cipolotti, biólogo e coordenador do Instituto Baleia Jubarte na Bahia.
Encontradas em quase todos os oceanos, as baleias-jubarte migram das águas mais frias, onde se alimentam, para regiões mais quentes para acasalar e ter seus filhotes. No Hemisfério Sul, elas percorrem cerca de 9 mil quilômetros no trajeto de ida e volta da Antártida até o arquipélago de Abrolhos, na Bahia.
As paradas no meio do caminho, que eram mais raras de serem percebidas pelos humanos, ficaram evidentes nas últimas temporadas. Uma das hipóteses estudadas por pesquisadores é uma mudança da ocupação desses animais ao longo de toda a costa. A outra é a deficiência do krill, crustáceo minúsculo do qual as jubarte se alimentam no Polo Sul.
"A gente está começando a conhecer agora as que estão no litoral paulista porque são as mais jovens, ainda não estão no ápice reprodutivo", comenta Cipolotti. "Pode ser que elas estejam se alimentando de forma ‘oportunista´ ao longo de sua migração, o que seria inédito", adiciona.
A resposta definitiva só deve vir em alguns anos, depois de muita pesquisa. O que se sabe é que as jubarte sobreviveram ao risco de extinção. Na década de 1980, a população não passava de mil animais pela costa brasileira. Atualmente, estima-se que entre 30 mil e 35 mil se reproduzam na região.
"Elas estão voltando a ocupar as antigas áreas que usavam antes de serem ameaçadas de extinção. Antes, elas se concentravam no sul da Bahia, e agora começaram a se dispersar", explica o biólogo.A caça industrial indiscriminada quase extinguiu muitas espécies desse mamífero dos oceanos. Em 1965, a Comissão Internacional da Baleia decidiu por uma moratória, mas a busca na costa brasileira não parou. A jubarte foi alvo de baleeiros de 1602 até meados de 1980, com participação de navios bascos, noruegueses e japoneses. O massacre só foi interrompido quando, em 1985, o então presidente José Sarney assinou um decreto proibindo a captura.
Poucos anos depois, em 1988, o Instituto Baleia Jubarte começou a monitorar a espécie, que pode chegar a 16 metros de comprimento. Desde então, algumas sempre voltaram ao litoral baiano, com ou sem filhotes, como a Durrel. Ela é reconhecida por conta de uma característica da jubarte: cada indivíduo tem uma marca única na cauda, formada por manchas naturais de cores branca e preta.
Para reunir num lugar só dados sobre os avistamentos, André Silva Barreto, pesquisador na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), desenvolveu o Sistema de Apoio ao Monitoramento de Mamíferos Marinhos (Simmam), em 2005. À medida que os usuários carregam as coordenadas geográficas de onde identificaram os animais, descobertas vêm à tona.
"Estamos descobrindo áreas onde os animais estão e que antes eram desconhecidas. Uma observação isolada não diz muito. Por isso que esse sistema que agrega informação mostra padrão, não só algo ocasional", explica Barreto.
Uma dessas regiões é o talude onde acaba a plataforma continental, diz o pesquisador. Espécies como golfinhos e baleias têm sido avistadas nesta zona de declive acentuado no Sul e Sudeste do país.
Esta reportagem pode ser lida por completo na Folha de S. Paulo

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