
04/12/2025
O inverno está chegando no hemisfério norte e, com ele, dias frios e nublados. As nuvens desempenham um papel vital no meio ambiente, proporcionando chuva, mas também refletindo a luz solar antes que ela atinja a superfície da Terra.
Mas, entre 2003 e 2022, as nuvens sobre o Atlântico Norte e o Pacífico Nordeste tornaram-se menos refletivas, permitindo que mais luz solar atingisse a superfície do oceano e causando o aumento da temperatura da superfície do mar.
Meus colegas e eu recentemente conduzimos uma pesquisa que mostra que os esforços globais para melhorar a qualidade do ar aceleraram involuntariamente o aquecimento global ao modificar as nuvens.
Embora o ar mais limpo traga grandes benefícios para a saúde, a redução da quantidade de poluição por partículas também diminuiu o efeito de resfriamento das nuvens, acelerando o aquecimento global.
Nosso estudo se baseou em duas décadas de dados de satélite para analisar os impactos das mudanças na poluição do ar por partículas e do aquecimento global nas nuvens. Os dados mostram que as nuvens de baixa altitude no hemisfério norte escureceram rapidamente desde 2003.
Em particular, a refletividade das nuvens sobre o Atlântico Norte e o Pacífico Nordeste caiu quase 3% por década. Durante o mesmo período, as temperaturas da superfície do mar aumentaram cerca de 0,4°C, intensificando as ondas de calor marinhas que danificaram ecossistemas e áreas de pesca.
Esperávamos que o aquecimento global causado pelo aumento dos gases de efeito estufa levasse a uma diminuição das nuvens baixas sobre o oceano. No entanto, as mudanças observadas foram grandes demais para serem explicadas por esse processo ou pela variabilidade climática natural, apontando para uma causa adicional de aquecimento que muitos modelos climáticos subestimaram.
O fator-chave acabou sendo os aerossóis —minúsculas partículas que atuam como sementes para as gotículas das nuvens. Quando há menos aerossóis, as nuvens contêm menos, mas maiores, gotículas.
Essas gotículas refletem menos luz solar e são mais propensas a precipitar rapidamente, produzindo nuvens mais escuras e de vida mais curta. Esse processo enfraquece a influência de resfriamento que as nuvens baixas têm sobre as áreas marinhas.
O efeito decorre de dois mecanismos conhecidos: o efeito Twomey, em que menos aerossóis tornam as nuvens menos refletivas, e o efeito Albrecht, em que gotículas maiores encurtam a "vida útil" das nuvens. Juntas, essas mudanças reduzem a refletividade geral do planeta.
Em última análise, nosso estudo expõe um paradoxo: o ar mais limpo beneficia a saúde humana, ao mesmo tempo em que revela toda a força do aquecimento causado pelos gases de efeito estufa, que historicamente tem sido "mascarado" pelo efeito de resfriamento da poluição por partículas.
As emissões de dióxido de enxofre (SO₂) —a principal fonte de aerossóis de sulfato— caíram drasticamente à medida que os países adotaram regulamentações mais rigorosas sobre a qualidade do ar.
Somente as emissões de SO₂ da China caíram cerca de 16 milhões de toneladas métricas por década desde 2003, com reduções semelhantes nos Estados Unidos e na Europa. Um ar mais limpo significa menos partículas de aerossóis disponíveis para formar nuvens brilhantes e refletivas.
Nosso estudo mostrou reduções de 5% a 10% nas concentrações de gotículas nas nuvens, especialmente em regiões onde o brilho das nuvens diminuiu mais. A estreita correspondência entre a redução dos aerossóis, o aumento do tamanho das gotículas e o escurecimento das nuvens confirmou que o ar mais limpo estava causando o aquecimento regional.
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