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Bebês de mães que vivem em bairros com poucas árvores têm chumbo e mercúrio no cordão umbilical, revela novo estudo

30/11/2023

A vida urbana deu um novo significado à expressão mãe natureza. Nascer em bairros com mais árvores reduz o risco de exposição a poluentes, como chumbo, mercúrio e arsênio. O dado faz parte do maior estudo de acompanhamento de gestantes e crianças brasileiras a poluentes comuns, como metais tóxicos, microplásticos e agrotóxicos. E, em seus primeiros resultados, as análises de metais, o trabalho já evidencia a importância da arborização na proteção da saúde da população.
Os resultados, divulgados agora, revelam que bebês nascidos de mães residentes em bairros menos arborizados apresentam poluentes como chumbo e mercúrio no sangue do cordão umbilical. O mesmo não ocorria naqueles oriundos das regiões mais arborizadas da cidade.
Não foram encontrados níveis considerados elevados e potencialmente tóxicos, mas os pesquisadores salientam que não se espera encontrar esse tipo metal no sangue de cordão umbilical, um indicativo de contaminação durante a gravidez, durante o desenvolvimento fetal. E, frisam os cientistas, é sabido que esses metais podem afetar o desenvolvimento de uma criança a longo prazo.
— Ficamos surpresos com a relevância da arborização, sabíamos que era importante, mas não imaginávamos um papel tão grande — destaca a endocrinologista e especialista em saúde ambiental Carmen Fróes Asmus, idealizadora e coordenadora do Projeto Infância e Poluentes Ambientais (Pipa) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O projeto é liderado pelos cientistas da UFRJ e dele participam nove instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Evandro Chagas (IEC). Com o apoio do SUS e da Faperj, ele tem uma equipe multidisciplinar, que inclui de pediatras, toxicologistas e epidemiologistas a neurologistas, odontologistas e nutricionistas. As crianças participantes nasceram na Maternidade Escola da UFRJ e vem de bairros de todas as regiões do Rio de Janeiro.
Oitocentos e quarenta e quatro bebês e suas mães do município do Rio de Janeiro estão sendo acompanhados da gestação aos 4 anos de idade das crianças. O estudo é realizado no Rio, mas os pesquisadores acreditam que em outras grandes cidades brasileiras a situação seja semelhante.
O município do Rio tem um percentual de índice de áreas verdes de 61%, segundo a Prefeitura. Mas a distribuição é desigual. Na Zona Norte é de 27% e no Centro, de 31%, diz Asmus. O número de bebês nascidos com concentrações de chumbo e mercúrio no sangue do cordão umbilical acima do valor médio é 43% maior no Centro e 35% maior na Zona Norte.
— Bebês cujas mães moravam nas zonas Norte e Central da cidade nasceram com significativamente maiores concentrações de mercúrio e chumbo no sangue do cordão umbilical, em comparação aos bebês cujas mães moravam no restante da cidade — diz ela.
Os bebês cujas mães moravam próximo a ruas de tráfego intenso de veículos tinham significativamente maiores concentrações de chumbo no sangue do cordão umbilical. Já aqueles filhos de mães que viviam perto de áreas comerciais apresentavam significativamente maiores concentrações de chumbo e mercúrio.
— As Zonas Norte e Centro têm alto número de áreas não-residenciais e ruas com tráfego intenso e menor número de áreas verdes — diz Asmus.
No caso do chumbo houve concentração igual ou acima de 0.80µg/dL; para mercúrio, 0.80µg/L. Esses valores per si não são altos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) admite a exposição até 3.5 µg/dL. Mas, o importante, é que indicam a exposição intrauterina, durante a gestação, através da mãe.
— A associação de maiores concentrações em bebês gestados em zonas da cidade com menos verde mostra a importância de considerar a arborização quando se pensa em vulnerabilidade socioambiental. Árvores cumprem diversos papeis ambientais, são filtradoras de poluentes, por exemplo — frisa Asmus.
Segundo ela, mercúrio e chumbo são particularmente mais agressivos à formação do bebê e ao desenvolvimento da criança de forma geral.
No total, são 617 bebês (81%) com concentrações de pelo menos um metal (ou arsênio ou chumbo ou mercúrio) acima do valor mediano de concentração dos metais encontrado na população. E 238 bebês tinham dois metais ao mesmo tempo (chumbo e mercúrio) com níveis acima da mediana no sangue do cordão.
Asmus observa que a arborização também é uma medida de desigualdade. Os bairros menos arborizados são também os com trânsito mais intenso e, de forma geral, menor renda e qualidade de vida.
O Pipa surgiu da necessidade de conhecer os impactos da exposição de poluentes e outros contaminantes da vida urbana à saúde. A maior parte do conhecimento sobre o assunto é gerada no exterior. No Brasil há estudos muito específicos e sem um número muito expressivo de participantes acompanhados por um tempo significativo.
A epidemiologista Nataly Damasceno de Figueiredo, coordenadora-executiva do Pipa e especialista em saúde ambiental, explica que, para quem nasce e vive em grandes cidades, a exposição a poluentes e contaminantes é crônica e nem sempre seus efeitos surgem depressa. São danos causados ao longo de anos, que podem afetar, por exemplo, a cognição e o desenvolvimento motor.
— É por isso que acompanhamos as crianças do parto aos 4 anos de idade e nessa idade elas passam por exames clínicos e neuropsicológicos. É bom para elas e também para toda a sociedade, pois a ideia é que os dados sejam usados para orientar políticas públicas de saúde — frisa Asmus.
Os metais analisados podem contaminar o ser humano de numerosas formas. Estão presentes como particulados no ar e são liberados por indústrias e veículos, por exemplo. Mas também são encontrados numa gama grande de produtos, como alguns cosméticos, e até em alimentos.
Figueiredo diz que estão em análise amostras colhidas para medir os níveis de poluentes como os piretróides, presentes em inseticidas, repelentes, aromatizantes e alguns produtos sanitários. Outro grupo é a classe de compostos químicos conhecida como PFAS. Há mais de nove mil tipos, presentes em impermeabilizantes, antiaderentes e impermeabilizantes, por exemplo.
— Quase sempre todas essas substâncias estão em concentrações muito pequenas. Mas quais seus efeitos cumulativos e a longo prazo? Não se sabe e é fundamental descobrir porque fazem parte do cotidiano. E é isso o que investigamos — destaca Figueiredo.
As árvores urbanas beneficiam a saúde de diferentes formas. Elas proporcionam sombra mais fresca e reduzem o calor. Também absorvem poluentes. E, de forma geral, aumentam a sensação de bem-estar. Quanto mais ruas arborizadas, praças, parques e florestas uma cidade tem, mais resiliente ela se torna, mostram estudos. Pesquisas em EUA, Japão e países europeus também indicam numerosos benefícios das árvores para a saúde.

* A melhor sombra: A sombra de uma árvore é mais fresca do que a oferecida por prédios e coberturas artificiais. Somente cerca de 30% da radiação solar chega à área sob uma árvore. O restante é absorvido pelas folhas para a fotossíntese e uma parte é refletida de volta à atmosfera.

* Redução do calor: A temperatura sob uma árvore é em média 5 graus Celsius menor que a medida em área aberta contígua, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês). E a arborização pode tornar uma cidade até 9 graus Celsius mais fresca. O calor está associado a pelo menos 27 tipos de problemas de saúde e, por isso, as árvores urbanas são também um instrumento de saúde pública.

* Diminuição da poluição: As árvores absorvem poluentes particulados do ar, como chumbo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. Nos EUA, se estima que as árvores urbanas removam 711 mil toneladas cúbicas de poluição do ar por ano. Os poluentes do ar estão associados ao risco de doenças cardiovasculares, glaucoma e complicações respiratórias. Em crianças, podem afetar a cognição.

* Absorção de poluentes da água: As árvores absorvem e filtram a água da chuva, ajudam a impedir que se acumule na rua e, dessa forma, contribuem para a eliminação de doenças transmitidas pela água suja, como leptospirose. Além disso, elas também absorvem eventuais poluentes contidos na água da chuva e a devolvem para a atmosfera em forma de vapor limpo.

* Coração: Uma análise publicada no periódico International Journal of Environmental Research and Public Health diz haver evidências de que o contato com árvores pode melhorar a função cardiovascular, baixando a pressão sanguínea e regularizando os batimentos cardíacos.

Fonte: O Globo

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