
14/10/2025
A 80 quilômetros da costa da Toscana, na Itália, em uma extensão azul cintilante interrompida apenas por ilhotas rochosas e inóspitas, incluindo a ilha real de Montecristo, criaturas antigas estão sob a superfície.
Passam os dias se alimentando de uma fonte improvável de nutrição: o metano, potente gás de efeito estufa que vaza das fendas no fundo do mar.
Ultimamente, pesquisadores têm tentado colocar esses microrganismos para trabalhar em uma tarefa urgente.
Se o apetite deles puder ser redirecionado para outras fontes de seu gás favorito, como as centenas de milhões de toneladas de metano que aquecem o planeta e que são emitidas anualmente por locais de extração de petróleo e gás, pela pecuária e pelos pântanos, esses micróbios poderão ajudar a desacelerar as mudanças climáticas.
Mas, antes de tudo, os pesquisadores precisam entender melhor esses microrganismos, que estão na Terra há bilhões de anos, mas permanecem enigmáticos em muitos aspectos.
Um lugar em que eles gostam de viver é o fundo do oceano, onde o metano enterrado no planeta escorre através de fissuras no leito marinho.
Em 2017, trabalhadores em barcos pesqueiros relataram ter visto um jato de água suja de nove metros irromper do mar, perto de Montecristo. Geólogos descobriram uma série de vulcões de lama offshore, borbulhando metano no mar azul-celeste.
Mas, até este ano, ninguém havia tentado capturar os organismos que se alimentam desse gás. Foi então que Braden Tierney e dois colegas navegaram pelo mar Tirreno, na costa oeste da Itália, em uma noite fria de verão.
"Flutuar sobre um lugar que explodiu com violência há menos de dez anos dá uma sensação estranha", disse Tierney, microbiologista norte-americano.
A maior parte do metano na atmosfera da Terra é produzida por micróbios que decompõem matéria vegetal e animal em pântanos, em aterros sanitários e no estômago das vacas, mas microrganismos de um tipo diferente devoram metano. E foi só nas últimas décadas que os cientistas começaram a entender como eles fazem isso.
No que se refere às moléculas, o metano é uma escolha alimentar estranha para qualquer organismo. É o ingrediente principal do gás natural, de modo que contém muita energia. Qualquer pessoa que já tenha acendido um fósforo perto de um cano de gás pode confirmar isso. Mas, para fazer uso dele, os micróbios precisam de algumas manobras químicas desafiadoras e gastam boa parte da própria energia.
Contudo, assim que os cientistas começaram a identificar e decifrar as bactérias capazes de efetuar essa conversão, passaram a encontrá-las em todos os lugares: nos rios, no solo, em fontes hidrotermais no fundo do mar e até na casca das árvores. Em alguns ambientes, as bactérias absorvem o metano antes mesmo que ele tenha a chance de alcançar a atmosfera.
O efeito cumulativo de todos esses micróbios que consomem metano, ou metanotróficos, como são chamados, é colossal.
"Em âmbito global, todos os metanotróficos do planeta estão consumindo muitas vezes a quantidade de metano que os humanos vêm liberando na atmosfera", disse James Henriksen, microbiologista ambiental da Universidade Estadual do Colorado.
Isso significa que, na atualidade, a Terra provavelmente seria ainda mais quente sem a ação dessas criaturas. Também significa que, se pudessem ser estimulados a trabalhar um pouco mais, esses micróbios poderiam resfriar o planeta, como os primos guerreiros climáticos de outros microrganismos que usamos para produzir medicamentos, matar pragas agrícolas e tratar águas residuais.
Até agora, no entanto, os comedores de metano têm se mostrado difíceis de controlar. Alguns morrem com uma exposição mínima ao oxigênio. Muitos trabalham em simbiose com outros organismos, como uma equipe pequena.
"Eles dependem uns dos outros e, certamente, de outros fatores, mas não sabemos exatamente do que precisam", afirmou Jeffrey Marlow, professor assistente de biologia da Universidade de Boston.
A matéria na íntegra pode ser lida na Folha de S. Paulo

Mudança climática gera inovações; veja dez tecnologias emergentes que podem fazer diferença
20/10/2025
Filhotes de capivara são resgatados na Via Dutra e recebem leite na mamadeira; VÍDEO
16/10/2025
Abaixo-assinado tenta evitar corte de árvores em museu de Niterói
16/10/2025
USP lança registradora inédita de créditos de carbono
16/10/2025
Método reduz até 92% de bisfenol A na água em 2 horas
16/10/2025
Turista é multada em R$ 10 mil por tocar tartaruga-marinha em Fernando de Noronha
16/10/2025